“As estatísticas dos incêndios em Portugal reflectem prejuízos económicos muito elevados resultantes da perda do coberto florestal, bem como danos ambientais associados à morte e fuga dos animais, à maior susceptibilidade do povoamento ardido a pragas e a um eventual aumento da erosão do solo. Aparentemente, o ecossistema fica mais pobre, devido ao desaparecimento de inúmeras espécies da fauna e flora, que dão lugar ao solo nu (…)
Ao nível da comunidade vegetal, os efeitos do fogo dependem da resposta individual das espécies à sua ocorrência e às relações competitivas entre estas. Verifica-se um efeito selectivo do fogo, que favorece a dominância de espécies com estruturas morfológicas ou mecanismos fisiológicos que garantam maior resistência à sua passagem e/ou posterior recolonização da estação. O fogo pode mesmo conduzir à extinção local de espécies endémicas de zonas frias (onde o fogo é pouco frequente), que crescem muito lentamente e sem estratégias eficientes de reprodução e colonização (GILL, 2002).
A capacidade de resistência das plantas ao fogo resulta da tolerância dos tecidos ao calor e/ou da sua elevada humidade foliar. Algumas espécies desenvolvem estruturas de protecção dos tecidos, como cascas resistentes ao fogo (na Pseudotsuga menziesii e Quercus suber), outras possuem gomos protectores, que lhes permitem reconstituir a copa danificada pelo fogo (Pinus ponderosa e Populus tremuloides).
A regeneração das plantas herbáceas após o fogo é assegurada por estruturas de reprodução vegetativa subterrâneas (como rizomas, tubérculos ou bolbos), ou por via seminal. As lenhosas podem regenerar apenas por semente (como as Cistáceas Cistus sp., de que a Esteva é um exemplo), ou preferencialmente por via vegetativa, a partir de rebentação de toiça ou raiz (como por exemplo o Medronheiro Arbutus unedo, a Aderno-de-folhas-largas Phillyrea latifolia e o Carrasco Quercus coccifera) (DE BANO et al., 1998).
Em resumo, as relações entre o fogo, as plantas e animais apresentam diferentes níveis de dependência, pelo que os efeitos do fogo variam numa gama entre o aumento e a redução da biovidersidade. O conhecimento destas relações é essencial para prever a recuperação do ecossistema após o fogo, não esquecendo que as comunidades naturais têm uma evolução dinâmica associada à interacção com o fogo, pelo que tendem para um equilíbrio florístico adequado à frequência de ocorrência deste fenómeno.”
Fonte: http://www.gforum.tv/board/1605/254746/o-fogo-e-biodiversidade.html, consultado em 18/11/2008